sábado, 25 de maio de 2013

01 de maio - Amritsar - Golden Temple

Um dos dias mais esperados chegou e tivemos de acordar às 5h da manhã para pegar estrada até Amritsar.
Esta cidade é o centro da religião Sikh, e local do Harmandir Sahib, o mais importante templo do sikhismo, mais conhecido como Golden Temple (Templo de Ouro).
A Manju acordou cedo para fazer um "rápido" café da manhã para nós: chai, batatas fritas e nuggets vegetarianos. Eu preferi fazer um café preto e forte, com o lençol a fingir que era um coador.
Saímos ainda com pouco calor, eu, a Manu, Micky e Jashan. Logo na primeira hora de estrada pude, pela primeira vez, experimentar a emoção de uma verdadeira estrada indiana, com carros a fazerem ultrapassagem perigosíssimas a todo momento. Ou são loucos ou têm muita fé em Deus.

A meio do caminho paramos o carro em uma pequena Gurdwara (nome dos templos sikh) e a Manu e o Micky foram rezar antes de seguirmos caminho. Eu e o Jashan ficamos no carro e quando eles regressaram do templo trouxe para nós um pouco de karah prasad (uma comida sagrada feita à base de farinha, açucar e manteiga).

Karah Prasad

Antes de chegar a India eu já tinha o sonho e andar de elefante, mas antes da viagem, a Manu avisou-me que aquela época seria muito difícil encontrar elefantes na rua por conta do forte calor (40 graus). Por isso foi com grande surpresa que avistei um elefante no meio da estrada, andando tranquilamente com seus dois donos. Peguei a máquina e comecei a tirar fotografias do lindo animal. Sempre tive paixão por elefantes, mas o mais próximo que consegui ficar de um deles foi há 100 metros, no Zoo de Lisboa. E era metade do tamanho daquele que eu estava a avistar. Minha alegria ao olhar o bicho era comparável a de uma criança que vê o Papai Noel/Pai Natal pela primeira vez. Micky ultrapassou o animal com o carro e eu já estava a ficar triste quando a Manu pediu que ele encostasse na berma. Desci do carro e fiquei encantada com o tamanho do elefante, que era proporcional à sua doçura. Estava a tocar na pele áspera dele, nas orelhas, completamente fascinada quando o senhor que ia em cima perguntou se eu queria dar uma volta! Que pergunta!!! Nem queria acreditar! O senhor deu ordem ao elefante para ele abaixar e eu subi.







Pela minha cara na fotografia percebe-se o meu deleite!!!

Andamos um pouco pela estrada e os carros, ônibus e caminhões iam passando ao lado e eu ia feliz da vida acenando a quem passava. As pessoas olhavam pelas janelas dos veículos, sorriam e acenavam para mim também. Foi muito divertido e por mim iria até Amritsar em cima do elefante... Se não faltasse ainda quase 200km. Depois de alguns minutos, o elefante atravessou a estrada e parou do outro lado para eu descer (levei uma "orelhada" de presente). Demos 1200 rupias ao senhor como "agradecimento". Não é como se ele não estivesse à espera...


O estado do Punjabi é muito alegre e colorido. Passamos por várias pequenas cidades no caminho e não faltavam mulheres com seus anarkalis (roupa típica do punjabi) de todas as cores, dupatas (lenços) e homens de turbantes também coloridos, obviamente! Nos carros as pessoas estão sempre a ouvir a animadíssima música bhangra, que caracteriza o lugar. Até os ônibus são coloridos e os caminhões todos enfeitados.







Paramos num restaurante no meio da estrada para um segundo café da manhã. Os meninos comeram à vontade o bom café da manhã indiano. Eu e a Manu bebemos chai e comemos roti paneer. Vinha cheio de cebola e eu tive de tirar todas antes de comer... :p. O restaurante era lindo, decorado bem ao estilo punjabi e o recepcionista vestia-se tradicionalmente, incluindo o calçado.






Enfim, chegamos a tão esperada Amritsar! A impressão clara é que a cidade vive da religião e respira a religião. Tudo gira à volta do Templo de Ouro. A cidade está sempre cheia de peregrinos, uma multidão está a todo momento a dirigir-se para o Harmandir Sahib.



Estacionamos o carro e apanhamos um cycleshaw para chegar ao templo. No caminho passamos por Jallianwala Bagh, local onde ocorreu o massacre de Amritsar, perpetrado por tropas do Raj Britânico contra manifestantes que reivindicavam a independência da Índia em 13 de abril de 1919.


Antes de entrarmos no templo (ou gurdwara) temos de tirar o calçado e guardar em um local específico parecido com os locais onde guardamos as sacolas no supermercados. Recebemos uma ficha para pegar o calçado na saída. Para entrar no templo, além de estarmos descalçados temos de cobrir a cabeça e fazemos isso muito antes de entrar, já em sinal de respeito à aproximação do templo. Os rapazes que não usam turbante podem comprar lenços para cobrir a cabeça. Caminhamos por um longo tapete, que é como que nos indicasse o caminho até o templo, e está sempre molhado por conta do calor, caso contrário queimaríamos os pés. No final do tapete há uns lavatórios para podermos lavar as mãos e uma espécie de piscininha onde corre água para podermos pisar e lavar os pés. Estes rituais de lavar mãos e pés e cobrir a cabeça são obrigatórios antes de entrar na gurdwara. A sensação da água nos pés era agradável para os 40 graus que fazia.


 Lá dentro há muito silêncio pessoal, apenas cortado pelos mantras (orações pela paz) que estão sempre a ser entoados pelos gurus. Senti uma emoção muito forte quando entrei, a sensação é inexplicável, sente-se paz e uma vontade de simplesmente estar ali.

O templo é rodeado por um grande Sarovar (lago artificial), conhecido como o AmritSar (lago de água benta ou néctar imortal). Molhamos os pés no lago antes de continuar a visita. O templo de ouro propriamente dito (é mesmo uma camada de ouro - metal - e não tinta como eu pensei inicialmente) tem quatro portas para mostrar que cada religião ou fé é autorizada a entrar nele para meditar ou simplesmente ouvir as orações pela paz. Significa a importância da aceitação de todas as pessoas independente de religião ou cultura. Os homens sikh por usarem turbante são frequentemente confundidos com muçulmanos e muitas vezes discriminados pelo "radicalismo" desta religião, quando na verdade a sua religião, o sikhismo, prega apenas a paz e a aceitação de todos.


Na gurdwara qualquer pessoa pode chegar, comer, beber e dormir. Basta que tenham fome, sede ou precisem de um lugar para passar a noite. Ninguém irá perguntar qual a sua crença. Nada é cobrado. Os visitantes podem fazer doações de qualquer valor. O templo sobrevive destas doações para poder oferecer comida e bebida aos que precisam. Qualquer pessoa também pode se oferecer como voluntário para limpar, arrumar, fazer comida ou apenas lavar pratos durante algumas horas.

No interior do complexo existem muitos santuários dedicados aos Gurus sikhs do passado e mártires. Há três árvores sagradas cada uma associada a um acontecimento histórico ou a um guru sikh.

Entramos por um lado do lago e nos dirigimos a uma fila onde pegamos em uma folha a refeição sagrada (karah prasad, que citei anteriormente). Em seguida nos dirigimos a uma enorme fila para entrar no templo. A espera é longa. Chegamos a estar mais de 10 minutos parados sem a fila andar 1 milimetro. E temos de ficar em silêncio, não por obrigação, mas por respeito. Ficamos a ouvir as orações cantadas pelos gurus.

Quando, enfim, chega a nossa vez de entrar no templo, tocamos o chão e colocamos a mão no coração e na cabeça antes de pisar lá dentro. Em seguida, no centro, vimos os gurus a cantar e a tocar uns instrumentos musicais (as orações pela paz que estamos sempre a ouvir é mesmo "ao vivo", ou seja, não é nenhum cd de música). Ajoelhamos, tocamos a cabeça no chão com a comida sagrada na mão, levantamos (e quem quiser doa quanto puder) e saímos por outra porta. À saída podemos beber um pouco da água sagrada do Sarovar (eu bebi). Vamos para outra fila onde entregamos a comida sagrada na folha grande e recebemos um pequeno prato feito de folha também com comida dentro, mas em menor quantidade (é como se fosse uma troca). Um voluntário nos entrega um saco plástico (para guardar o pratinho com a comida, pois esta é para levarmos para quem ficou em casa, por exemplo) e outro voluntário nos dá mais karah prasad. Temos de recebe-la com as duas mãos juntas como uma concha (como na foto inicial). Todos os participantes numa cerimônia num templo sikh recebem este alimento sem distinção de casta, nível económico ou crença religiosa. E depois podemos comer. Em seguida podemos fazer orações a volta de cada uma das árvores sagradas e dos santuários dos gurus.

Saímos do templo e compramos a Kara, um bracelete usado pelos sikh como símbolo de ligação inquebrável com Deus. É feita de aço em vez de ouro ou prata, pois não é um adereço. Deve ser usado no braço direito e representa também a fraternidade Sikh. Comprei algumas t-shirts para presentes e um anarkali para minha sobrinha.

Voltamos de cycleshaw para apanhar o carro e procurar um local para almoçar. Vi uma placa a informar que fazia mehandi e não perdi tempo. Fiz nas duas mãos e tive de ficar mais de 3h sem tocar em nada, de modo que Micky teve de me dar o almoço à boca.


Antes de voltarmos para Chandigarh paramos numa aldeia onde vivem os avós e tios do Jashan. A avó (ou Dadi) abraçou-me como se eu fosse uma neta que ela não via há muito tempo, ao mesmo tempo em que batia levemente em minhas costas e falava coisas em punjabi. Cumprimentei as outras pessoas da casa, as senhoras, com abraços (abraço é bem punjabi) e os homens apenas com o gesto de juntar as mãos a frente do peito, baixar ligeiramente a cabeça e dizer "Sat Sri Akaal".
Sentamos numa sala imensa, com grandes sofás, uma grande mesa de centro e uma cama enrome! A dadi (vovó) fazia-me perguntas em punjabi esperando respostas. Eu olhava para a Manu, que me traduzia e eu respondia em inglês, olhando para a dadi, que olhava para a Manu a procura de tradução punjabi. Que confusão! Como sempre, a Manu dizia às pessoas que eu já sabia falar punjabi e pedia para eu falar e eu recitava, tal qual criança que aprende palavras novas,  a minha "fluência" de quase 20 palavras! Em algumas eu ouvia "boda che", ou seja, "muito bom"; em outras eu ouvia gargalhadas que me fazia rir também, e em seguida uma suave correção.
Como não podia ser diferente (e como somos bem-vindos na casa :)) apareceram copos com refrigerantes e bandejas com chamuças, um salgadinho que não lembro o nome, mas que já havia comido em Lisboa, e doces. Eu tinha almoçado há pouco tempo e estava cheia, mas tinha de comer qualquer coisa, como sempre. Bebi refrigerante e comi um docinho.
Tiramos algumas fotografias na propriedade e com as crianças, primos do Jashan. Na despedida, outro abraço punjabi e caloroso da dadi.


Chegamos a Chandigarh a noite. A Manju e a Manu ajudaram-me a tirar o excesso do mehandi com um pouco de água e neste dia não podia passar sabonete nas mãos e como precisava muito lavar o cabelo por causa do calor que passei, coloquei sacos plásticos nas mãos e tomei um banho.
A seguir ao jantar ainda fui relembrar as emoções do dia (e que grande dia!) olhando as fotografias! A Manu só dizia: "Tens muita sorte! No dia que vamos ao templo de ouro encontras o elefante que tanto querias! Juro-te que a coisa mais rara do mundo é encontrar um elefante no Punjabi no mês de maio!"
Sim, tenho muita sorte, não apenas pelo elefante, mas por estar a viver tanta coisa maravilhosa nestes dias... :)

domingo, 19 de maio de 2013

29 e 30 de abril de 2013 - Chandigarh

Ao levantar, por volta das 9 da manhã, o Samu entregou-me um delicioso copo de chai com bolachas. Depois de beber, fui até a cozinha levar o copo e vi a Manju a preparar o café da manhã: roti recheado com cebola, queijo e pimenta malagueta. Pedi para ela me ensinar e o café da manhã para todos foi preparado por mim :)






A seguir ao café da manhã, a Manju fez-me uma massagem na cabeça, com um óleo que tinha de ficar no cabelo por mais uma hora antes de lavar.


Descascando mangas para fazer Mango Lassi. Este é o Samu.

Até o final da tarde não fiz praticamente nada. Estive o dia inteiro em casa a descansar e a passar o tempo no facebook. E a comer!
Ao fim da tarde fomos eu, Manu, Micky e Jashan (primo deles) ao Elante Mall, lindo e super moderno shopping da cidade. A Manu foi a Inglot, pois a base que comprou em Delhi, por lapso da funcionária, foi trocada por um pó bronze. Tivemos quase 2 horas na loja pois a Manu já não tinha o recibo de compra e foi bastante complicado (e engraçado) conseguir a troca. A Manu tentava ficar brava para exigir os direitos, mas ao mesmo tempo falava com a gerente sobre dicas de maquiagem e pedia sugestão de outros produtos. No final, a loja em Delhi enviou por e-mail a cópia do talão de compra.

Quando saímos do shopping já era noite! A Manu foi ao mercado comprar farinha e ingredientes para o jantar e eu fui com Micky e Jashan ao Sukhna Lake. Um lugar super agradável para passear a noite. Havia crianças, casais e vendedores de doces, pipocas, comidas típicas e até água de côco.





Saímos do Sukhna Lake e fomos ao Sector 16 onde comprei camisetas souvenir do Punjabi para presente. Em seguida fomos ao famoso Sector 17, ao restaurante Shree Rathnam onde comi Masala Dosa e um outro prato que não lembro o nome e bebi lassi doce. Saí completamente cheia e no dia seguinte viria a arrepender-me de comer tanto à noite.


Ao chegar a casa, a Manu tinha jantar feito, mas eu já não podia ver comida à frente!
No dia seguinte, por volta das 9h da manhã acordei direto para o banheiro e vomitei todo o jantar. Quando levantei, a Manu estava a dormir, quando saí do banheiro, já me sentindo melhor, ela estava sentada com o telefone na mão e já tinha ligado para Delhi para avisar aos pais. Queriam que eu fosse ao médico, mas já me sentia bem. Falei com o pai e disse que estava ótima. Apesar de me sentir bem preferi passar a manhã inteira só com o chai e frutas. A Manju deu-me uma grande tigela com mangas, melão, banana e melancia. O pai pediu a Manju para fazer dhal amarelo com arroz branco para o almoço.
Antes do almoço fui às compras no Elante Mall com Manu e as vizinhas. Fomos e voltamos de tuck tuck. Na minha próxima viagem à India levo as malas completamente vazias! Havia momentos em que eu tinha de pedir as meninas para me tirarem da loja, pois já tinha 5 vestidos e 3 batas na mão e não fazia a mínima ideia de qual escolher. Todos lindos! No final comprei 2 vestidos, 2 batas e mais brincos e pulseiras.





Ao voltar do shopping comi dhal amarelo com arroz e a Manju arranjou um lençol para eu usar como coador de café e finalmente pude beber um cafezinho-brasileiro-delta-made-in-portugal. Fiz para mim, para a Manju e Manu que simplesmente adoraram o café. Na India só havia expresso nos coffee shop (muito ruim por sinal) e café solúvel.
A noite dançamos Bhangra: eu, Micky, Jashan e a filha da Manju.